Urim & Tumim

“Também porás no peitoral do juízo o Urim e o Tumim, para que estejam sobre o coração de Arão, quando entrar perante o Senhor; assim, Arão levará o juízo dos filhos de Israel sobre o seu coração diante do Senhor continuamente” (Êx 28.30).

Por Jetúlio Luz

Apesar do significado ser incerto, há algumas possibilidades. Em hebraico, Urim começa com a primeira letra do alfabeto, isto é, “alef”, e Tumim com a última, ou seja, “tau”. Philipe Johnson, doutor em Teologia, diz que “as palavras hebraicas significam luzes e perfeição. A LXX traduz para revelação e verdade. “O que o Urim e o Tumim eram realmente, não se pode determinar com certeza, nem dos nomes propriamente ditos, nem quaisquer outras circunstâncias relacionadas com eles. Tal vez fossem certo meio concedido pelo Senhor ao Seu povo para se garantir a iluminação, sempre que a congregação precisasse para orientação de seus atos; e por meio do qual os direitos de Israel, quando postos em dúvidas ou em perigo, fossem restaurados, e (…) este meio ligava-se com a vestimenta oficial do sumo sacerdote, embora seu caráter preciso não possa ser mais determinado” (cf. Nm 27.21; 1Sm 28.6; Ed 2.63). 

Esses dois objetos são importantes dentro do contexto de Israel, mas são poucas informações que temos a respeito, sobrando apenas especulações, umas até possíveis, outras nem tanto, o que sugere que esses objetos eram conhecidos do povo. O que sabemos é que se trata de dois objetos distintos que ficavam entre as pedras preciosas que haviam no “peitoral do juízo” na roupa do sacerdote e que serviam como meio de se obter a resposta de Deus. Por termos poucas informações isso dificulta questões como o designer e como eles transmitiam a vontade do Senhor.

É importante que se destaque o que diz Emílio Conde, que “as prerrogativas do uso do Urim e Tumim pertenciam à tribo de Levi, através e na sucessão dos sumos sacerdotes.”2  “Saul, o primeiro rei de Israel, antes de consultar a pitonisa de En-Dor, consultou ao Senhor através do Urim, sem estar autorizado, pois não era sumo sacerdote: “…, porém o Senhor não lhe respondeu nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas” (1 Sm 28.6). Se Saul fez uso do Urim, o fez indevidamente, e Deus não responde aos rebeldes”, diz Conde.

Wiersbe diz que “não sabemos exatamente como o faziam, mas cabia aos sacerdotes essa tarefa (Dt 33.8; Ed 2.63; Ne 7.65). Alguns acreditam que se trata de uma pequena bolsa com duas pedras, uma preta e uma branca, e que a pedra que o sacerdote tirasse de dentro da bolsa indicaria a vontade de Deus. Ou, talvez, fossem pedras preciosas que brilhavam de modo especial para indicar a direção do Senhor.“ 3  Emílio Conde diz que o historiador Flávio Josefo e alguns rabinos, são de opinião que as doze pedras do peitoral constituíam o oráculo divino; alguns julgam que a revelação da vontade divina se obtinha através do brilho extraordinário das pedras preciosas; ainda outros consideram o Urim e Tumim como sendo o nome de Jeová gravado em lâminas de ouro ou em pedras preciosas. Outros acham que eram pedrinhas ou pauzinhos de cores diferentes ou com sinais diferentes, significando “sim” e “não”; a consulta era feita de modo a se conhecer a vontade do Senhor, através de um “sim” ou de um “não”, conforme a sorte. Tudo isso são opiniões de pessoas bem-intencionadas, expressando ideias aproximadas da verdade, mas não são a última palavra que define o Urim e o Tumim. Ficamos com o que a Bíblia diz e isso nos basta.”

Se tratando de Deus, ainda mais no AT, sempre esperamos que Ele se comunicasse com o seu povo de forma direta, sem a necessidade de intermediário como parece ser o Urim e o Tumim. Entretanto, é importante que se ressalte que “a prática de apresentar perguntas do tipo “sim” ou “não” (oráculos) aos deuses era bastante conhecida em todo o Oriente Próximo. Nesse aspecto, são particularmente interessantes os textos babilônicos tamitu, que preservam as respostas a muitas perguntas oculares. Pedras positivas ou negativas (acreditava-se que fosse pedras claras e escuras) também eram amplamente usadas na Mesopotâmia, num procedimento chamado psefomancia. Em um texto assírio, o alabastro e a hematita são mencionados de maneira específica. O processo consistia geralmente em se fazer uma pergunta cuja pedra seria “sim” ou “não” e a seguir tirava-se uma pedra. Para confirmar a resposta, uma pedra da mesma cor deveria ser tirada por três vezes consecutivas.” Robert P. Gordon diz que “parece que incluía algum método de tirar sortes com base em resposta simples de “sim” ou “não”. 5

Não temos menção do uso do Urim e Tumim nas páginas do Novo Testamento, ainda que alguns comentaristas achem, como diz Conde, “que o sumo sacerdote Caifás consultou a Deus através de Urim e Tumim, para receber luz e verdade acerca do que estava acontecendo em Jerusalém, na Judéia e na Galileia, com a manifestação do Filho de Deus. Seja como for, Caifás antecipou uma verdade que logo depois se cumpriu. Deus serviu-se do sumo sacerdote para declarar ao mundo que alguém deveria morrer pela nação.” Não está claro que essa compreensão de Caifás (Jo 11.49-51) foi através do Urim e Tumim, como também acho difícil.

Hoje, não precisamos mais desses objetos, pois, o Espírito Santo nos conduz pelo “Urim e Tumim das Escrituras”, ou seja, Ele nos orienta através da palavra de Deus nos revelando a Sua multiforme vontade e fala-nos de várias maneiras com o Seu povo em concordância com às Escrituras Sagradas.

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1    Comentário Bíblico Moody. 2ª edição. São Paulo: Batista Regular do Brasil, 2017, p. 129.

2   CONDE, Emílio. Tesouro de Conhecimento Bíblico. Rio de Janeiro: CPAD,1983, p.687.

 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. 1ª edição. Santo André, SP: Geográfica editora, 2006, Volume 1, p. 317.

4    Comentário Bíblico Atos: Antigo Testamento. Belo Horizonte: Editora Atos, 2003, p. 110.

5    Comentário Bíblico NVI. Organizador F.F.Bruce. 2ª edição. São Paulo: Editora Vida, 20012, p. 182